Domingo de Ramos da Paixão do Senhor
“Ora, se morremos com Cristo, cremos
que também com Ele viveremos”. (Rm
6,8).
Queridos irmãos e irmãs schoenstatteanos
Chegamos no Domingo de Ramos, após cinco
semanas do tempo quaresmal. Esse domingo, muito especial na liturgia, conclui o
Tempo da Quaresma e abre as Liturgias da Semana Santa, ponto mais alto da vida cristã,
pois culmina com o Tríduo Pascal, quando celebramos a Ceia do Senhor, sua Paixão,
Morte e sua Ressurreição. Serão momentos fortes, momentos que renovam nossa fé.
Santo, Santo, Santo!
Pois
bem, nesse clima de expectativa, a liturgia deste Domingo de Ramos nos traz
duas proclamações do Evangelho. No primeiro Evangelho narra-se a entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém, quando o povo, com os ramos nas mãos, gritam: Hosana ao Rei, hosana nas alturas...bendito
o que vem em nome do Senhor. Momento este que foi eternizado ao
Cristianismo, eternizado na história, pois, no rito da Eucaristia, a cada
celebração repetimos as mesmas palavras, proclamando o Santo, Santo, Santo! É o cumprimento da Profecia de Zacarias (Zc
9, 9-10), que diz textualmente: “Alegra-te
muito ó filha de Sião, exulta, ó filha de Jerusalém; o teu rei vem a ti; ele é
justo e traz a salvação; ele é humilde e vem montado num jumento, num
jumentinho, filho de jumenta”. Jumento nunca montado remete à tradição de que
a monta deste animal, em dias de festa, era prerrogativa dos reis. Aliás, o
jumento foi um animal mais que privilegiado, pensem bem: esteve presente na
vida de José, quando este levou Maria a Belém para o recenseamento, e
presenciou o nascimento de Jesus na gruta, onde a tradição da Igreja diz que
ele aqueceu o menino, junto com os outros animais presentes. Depois, levou a
família de Nazaré na fuga para o Egito e os trouxe novamente para a Galileia. É,
de fato, um animal privilegiado.
Jesus, portanto, cumpre a profecia de
ser proclamado rei e de se apresentar como o Messias, que o povo escolhido –
povo de Israel – esperava há milênios. Que a cada celebração, quando cantarmos
o Santo, junto com o coro celeste dos anjos, o nosso coração se rejubile junto
ao Rei. Jamais cante desatento essa linda proclamação, que há milênios a Igreja
faz ao seu Senhor.
Depois da proclamação de Rei, vem a cruz
A liturgia, bem como Evangelho central
deste Domingo, é a Paixão e Morte do Senhor. Como dissemos, os Ramos são a
entrada, mas as Leituras e o Evangelho central se referem à narrativa da Paixão
e Morte do Senhor. Isso porque a Liturgia da Igreja é realizada a cada domingo,
ou seja, no próximo Domingo será o Evangelho da Ressurreição. Entenda que nos
outros dias da semana, principalmente no Tríduo, cada dia terá as suas leituras
específicas.
O Servo sofredor
As leituras remetem ao Servo obediente
ao Pai, que se entregou por nós, aceitando todos os castigos, de todas as
formas e violências inimagináveis, como nos diz o Profeta Isaías:
“Ofereci as costas para me baterem e as
faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e
cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o
ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei
humilhado” (Is 50, 7-8).
Já Paulo, na Carta aos Filipenses, com
a profecia cumprida e o Senhor Ressuscitado, diz que, por ter aceitado todo esse
sofrimento, por ter obedecido, por ter se colocado na condição de servo, de
escravo, o bom Deus o exaltou acima de tudo e de todos, tornando seu nome
glorioso, onde até nos infernos os joelhos devem se dobrar diante do nome de
Jesus. É o Senhor vitorioso.
“Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens... humilhou-se
a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o
exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao
nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda
língua proclame: 'Jesus Cristo é o Senhor', para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 6-11).
E no Evangelho de Lucas (Lc 23,1-49) temos
a narrativa de Jesus diante de Pilatos com o seu julgamento e condenação. São
cenas fortes, mas que, ao mesmo tempo, nos permitem refletir sobre o quanto
Jesus nos ama, intensamente. É o doar a vida por nós, como diz o belo canto: “Prova de amor maior não há que doar a vida
pelo irmão! ”.
O sofrimento com meio de salvação
A reflexão deste domingo é para
ajudar-nos a crer que assim como o Filho de Deus sofreu, o sofrimento faz parte
também de nossa história, de nossa vida. Não há como fugir dos percalços da
vida. Mas, ao mesmo tempo, é um ensinamento profundo de quanto devemos confiar
em Deus Pai e na sua providência, pois Ele jamais nos abandona. Ele não dá o
fardo maior do que nossos ombros suportam carregar. São os designíos de Deus. O
importante nesse momento é olharmos para Jesus e ver como a alternância de
valores acontece muito rapidamente. Aqueles mesmos que o exaltaram foram os que
gritaram: crucifica-o. Cuidado no engano dos elogios e mais cuidado ainda em seguir
a multidão. Cuidado para não seguir os lobos, que são aqueles que fazem o povo
de massa de manobra. Será que muitas vezes não pode acontecer o mesmo com nós
mesmos? Na liturgia proclamarmos Jesus como Senhor e no dia a dia nos
transformarmos no homem massa, manipulado, indo com a maioria, como diz nosso
Pai e Fundador, Pe. José Kentenich? Um tema a se meditar.
Entraremos na Semana Santa num clima
profundo e apropriado para a reflexão, para a meditação. Uma
semana de silêncio
interior. Lembro-me da infância que, em casa, era: nada de som, nada de
televisão, nada de extravagância no comer. ‘Sobriedade’ era a palavra. Não estamos
falando apenas de tradição, estamos falando do respeito, do sério cultivo da
interioridade, da autoeducação, da aspiração ao alto, pois a grandeza da
Eucaristia e da Palavra de Deus é fazer memória e não contar história. Tudo
acontece novamente. É preciso fechar os ouvidos aos barulhos do mundo, para que
possamos escutar a voz doce do Senhor, a doce voz de sua Mãe, a brisa suave do
Espírito. É preciso se colocar ao lado do Cristo sofredor, se colocar em pé, junto
com nossa Mãe, aos pés da cruz.
Acalmar e silenciar o coração, eis o
segredo.
Rezemos:
“Mãe
das Dores, minha Mãe, nos momentos de opressão e dificuldades, quem poderia
entender-me melhor do que tu?! Consoladora dos aflitos, Auxílio dos Cristãos,
concede-me algo de teu ânimo e coragem no sofrimento, para suportar tudo quanto
o bom Deus previu para mim, por amor. Ajuda-me, para que tudo seja transformado
em dor redentora, para mim e para todos os que me são confiados! ” (Pe. José Kentenich)
Desejamos a todos um bom domingo e uma
excelente Semana Santa, semana verdadeira dos cristãos... dos schoenstattianos,
dos filhos amados de Deus. Infinitamente amados, que acompanham seu Senhor,
onde Ele estiver.
Em tempo: não se esqueçam de guardar
os Ramos durante todo o ano, em algum lugar nobre da casa. São ramos
abençoados, que nos acompanharão durante todo o ano, não como superstição, mas
sim como memória de que seguimos Cristo e o aclamemos como Rei. Os ramos no ano
seguinte – secos – são queimados e utilizados nas cinzas, da quarta-feira de
cinzas.
Sempre desejamos aos outros que tenham
uma santa semana. Pois essa é a própria, literalmente!
Se aproprie das graças que ela produz.
Romulo e Márcia Romanato – União de Famílias
de Schoenstatt/SP