segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Homilia do Cardeal Stanisław Ryłko por ocasião da Abertura do Jubileu - Centenário da Fundação

«Ide, eu vos envio…» (Lc 10,3)
1. Com esta Eucaristia, o Movimento Apostólico de Schoenstatt inicia as celebrações do Jubileu-centenário da fundação. O ano que assim abrimos será um ano especial – um ano de graças, um verdadeiro kairos – uma passagem do Senhor. Este é um grande dom para todos, um presente que deve ser aceito com alegria e gratidão, mas também com uma grande consciência de responsabilidade, para não desperdiçarmos a graça, perdendo a singular ocasião que Ele nos proporciona.

Desde o início, pretendíamos colocar este tempo sagrado sob a especial proteção de Nossa Senhora, a cheia de graça, a humilde Serva do Senhor que se abriu sem reservas ao Altíssimo e deu, como ninguém, um total e irrestrito sim a Deus. Ela, que foi a primeira discípula de Cristo. É este o caminho mariano, ao qual o Ano jubilar vos conclama, de modo especial.

Hoje, a Igreja celebra a Festa do evangelista São Lucas. Creio que não é por acaso! São Lucas tem muito a nos dizer como um movimento mariano. Sabemos que ele é chamado o primeiro "pintor de Maria". Verdade é que, na tradição bizantina, todos os ícones de Maria têm, como referência, o primeiro ícone original que teria sido pintado por São Lucas. Pintor da imagem de Maria certamente poderia dizê-lo, a respeito do Padre Kentenich. Sem dúvida, assim ele se via. Parece-me que ele enfatizou de modo especial alguns traços, hoje particularmente atuais, da imagem da Mãe do Senhor já pintada por tantas gerações da Igreja.

Ele estava convicto de que Maria recebeu de Deus uma tarefa permanente e quer atuar em nosso meio, porque é nossa Mãe. Assim, o Padre Kentenich comparava a tarefa de Maria na Igreja, em união com Cristo-Cabeça, a função do coração: Mãe e coração da Igreja!

Além disso, em sua atuação pastoral, vosso Fundador pintou continuamente a imagem de Maria nos corações. Padre Kentenich escreveu a seu modo num número incontável de corações o "Totus tuus" do beato João Paulo II, formando assim personalidades marianas para a Igreja.

Todos nós, cristãos, deveríamos ser pintores de Maria, ou seja, pintar a imagem de Maria, por meio de nossa vida, como lemos numa conhecida oração schoenstatiana: "Torna-nos semelhantes à tua imagem... em nós, percorre o nosso tempo, prepara-o para Cristo.“ Esta é, sem dúvida, a vocação especial dos membros do Movimento Apostólico de Schoenstatt, cujo carisma originário é uma Aliança de Amor com Maria. Quem se deixa conduzir e formar por Maria, participa de sua tarefa.


2. A celebração do Jubileu-centenário da fundação oferece ao Movimento de Schoenstatt uma ocasião para recordar com gratidão as estações de sua longa história. É imensamente importante para todos os movimentos eclesiais manterem viva a memória da origem. É na origem que se manifesta a essência mais profunda, a plena beleza do carisma do qual o movimento surgiu, e que se renova continuamente ao longo da história. A recordação viva do início é condição para um claro reconhecimento da própria identidade: quem somos na Igreja? Qual é nossa vocação e missão na Igreja e no mundo?

Por isso desejo transportar-me convosco ao 18 de outubro de 1914. Um jovem palotino, Padre José Kentenich, a quem fora confiada a tarefa de diretor espiritual no ginásio dos palotinos em Schoenstatt, realizou com um grupo de alunos um ato que entrou na história, como início do Movimento.

Na pequena capelinha de São Miguel no Vale de Schoenstatt foi selada uma verdadeira Aliança de Amor com Maria. Padre Kentenich convidou os jovens a provarem com a própria vida seu amor à Mãe de Deus e assim atraí-la à pequena capela, para que a partir dali, Ela pudesse desdobrar a sua atuação maternal. Em sua palestra, disse o Padre Kentenich: "Todos os que aqui vierem para rezar, devem experimentar as glórias de Maria e confessar: aqui é bom estar. Aqui queremos fazer tendas, este deve ser o nosso lugarzinho predileto."

A Aliança de Amor é o coração do Movimento, a fonte da vitalidade espiritual e da fecundidade do Movimento, ao longo destes cem anos. A Aliança de Amor é o vosso carisma! E tudo se concentra neste lugar, no Santuário Original da Mater Ter Admirabilis. A partir daqui e de muitos Santuários de Schoenstatt no mundo inteiro, Ela atua como educadora daquela "nova personalidade" e daquela "nova comunidade" de que a Igreja tão urgentemente necessita.

Temos, pois, motivo para agradecer à Providência divina que, pela Aliança de Amor, doou a toda a Igreja este lugar e este Santuário. Nossa gratidão se dirige também à comunidade dos palotinos por terem presenteado o Santuário Original à Família de Schoenstatt. É um grande presente jubilar, pelo qual todos nos alegramos!

Quem teria pensado que, naquele 18 de outubro de 1914, surgiria um Movimento cujo desenvolvimento histórico seria tão extraordinário! Do pequenino grão de mostarda surgiu uma árvore amplamente ramificada: uma família espiritual, rica em dons e ramos, unida apesar das diferenças, entre Liga, Uniões e Institutos Seculares. Surgiu um grande Movimento, entretanto presente em todos os continentes e em quase 50 países. E vós, queridos amigos, sois a prova de que é assim. Schoenstatt traz para a Igreja um significativo dinamismo missionário.

Quantas iniciativas de evangelização e formação para jovens, adultos, homens, mulheres e famílias! Mas sobretudo: quantos podem testemunhar que aqui, no Santuário, sua vida mudou! Quantos jovens encontraram em Schoenstatt a alegria da fé e a beleza do cristianismo! Quanto potencial missionário foi despertado e colocado a serviço da Igreja, a partir daqui, pelas comunidades e indivíduos!

Além dos muitos acontecimentos felizes e consoladores, não faltaram na história de Schoenstatt provações e até provações muito dolorosas. Não me refiro apenas às duas guerras mundiais e à prisão do Fundador no Campo de concentração de Dachau, mas também, particularmente, ao longo exílio nos Estados Unidos que lhe foi imposto pelas autoridades da Igreja. No entanto, nesses anos difíceis, o amor à Igreja não diminuiu no coração do Padre Kentenich, nem no coração de sua Família de Schoenstatt. Olhando este período, Schoenstatt pode dizer com São Paulo: "Mas o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim fosse cumprida a pregação, e a ouvissem todos os gentios." (2Tm 4,17). No túmulo do Pai e Fundador está gravado "Dilexit Ecclesiam". Isso diz tudo!


3. Os movimentos eclesiais não são teorias, mas a resposta concreta do Espírito Santo aos grandes desafios que a Igreja deve enfrentar, em todos os momentos. Os movimentos são projetos que – como diz o Padre Kentenich – surgem "com o ouvido no coração de Deus e a mão no pulso do tempo". Ao recordar a história do Movimento de Schoenstatt, lembramo-nos espontaneamente das palavras do profeta Isaías: "Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos."(Is 55,9).

Deus nos surpreende continuamente com os seus dons! Este Ano jubilar nos concede a ocasião de redescobrir novamente a beleza fascinante do carisma original de Schoenstatt. Este dom da graça é a força perene e o nervo vital do Movimento. Acolham, pois, novamente, com um amor renovado, com alegria e gratidão, o carisma de Schoenstatt! O peso do que é habitual e da rotina nos espreitam continuamente na vida, querendo paralisarnos. Pode difundir-se um cansaço espiritual, uma espécie de aridez. Mas com a ajuda de Maria, será possível viver este ano, como "tempo de graças" e reencontrar, em nosso interior, o entusiasmo e a alegria do "primeiro amor." (cf. Ap 2, 3-4).

Conservar vivo um carisma significa vivê-lo integralmente e colocá-lo a serviço da Igreja. Não há outro caminho. Muitos entre vós provavelmente participaram no primeiro encontro de Movimentos Eclesiais em 1998 e recordarão as palavras do Beato João Paulo II: "A Igreja espera de vós, frutos abundantes de comunidade e empenho“ (Alocução para os Movimentos Eclesiais e novas comunidades, 30. Mai 1998). Em 2006, Bento XVI acrescentou: "Queridos amigos, peço-vos que sejam mais ainda, muito mais ainda, colaboradores do serviço apostólico universal do Papa, abrindo as portas a Cristo. Este é o melhor serviço à Igreja e a todos ...” (Homilia na Vigília de Pentecostes, 3 de junho de 2006). E por fim, na solenidade de Pentecostes deste ano, o Papa Francisco dirigiu aos movimentos as seguintes palavras: "Vós sois uma dádiva para a Igreja! (...) Alegrai-vos sempre com a comunidade da Igreja e empenhai-vos apaixonadamente por ela!“ (Regina coeli, 19 de maio de 2013) Justamente hoje a Igreja necessita de um novo ardor missionário e olha com esperança os movimentos eclesiais. Ela olha com grande esperança para Schoenstatt. A Igreja conta com Schoenstatt!

Na passagem do Evangelho de Lucas, na liturgia de hoje, escutamos: "A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi ao Senhor da messe para enviar operários à sua messe!" (Lc 10,2). No início deste Ano jubilar escutemos igualmente as palavras de envio que Cristo dirige a todo o Movimento de Schoenstatt: "Ide, eu vos envio…“ (Lc 10,3). Após ter percorrido durante quase cem anos este caminho de missão, a grande Família de Schoenstatt pode agora comprovar sua prontidão, respondendo: "Aqui estou, Senhor, envia-me!”